terça-feira, 16 de outubro de 2018

É tão breve a vida…

JOSÉ RENATO NALINI 14/10/2018

Tristão de Athayde, pseudônimo de Alceu Amoroso Lima, foi um dos intelectuais mais completos que o Brasil já produziu. Começou a escrever como crítico literário, atividade que considerava alicerçada em um corpo de princípios, de uma concepção da vida, da arte e da literatura, em caráter docente.

Pois o crítico é um incentivador à leitura. Seu gosto, sensibilidade, emoção e espírito criador o vocacionam a gerar uma legião de leitores.

Uma das críticas de Tristão foi escrita em 1920 sobre o livro “Alma Cabocla”, de Paulo Setúbal. Encontra na poesia de Paulo Setúbal a emoção nesse momento impressionante em que ela se desprende da natureza, do cotidiano, do prosaísmo, para iniciar o seu caminho de arte.

Elogia a aproximação com a natureza, o amor à terra como dado essencial de uma poesia de claridade sedutora, de verdade cristalina, o amor à terra como paisagem.

Reproduz parte da produção de Setúbal:

“Tudo me entrista e punge nestas terras!
Os mesmos cafezais, as mesmas serras
E a mesma casa antiga da fazenda
Que outrora viu, quando éramos meninos
Nossos amores, nossos desatinos
Toda essa história já desfeita em lenda!
Era dezembro… Florescia o milho
Verde e glorioso como o nosso idílio…
Que lindas roças! Que estação aquela!
Toda a velha fazenda parecia
Com sua larga e rústica alegria
Mais cheia de aves, mais ruidosa e bela”!

Amoroso Lima saúda a chegada do “jovem poeta” e admira o caráter do sentimento da poesia, elaborada no momento em que a representação se substitui à sensação, para provar que a poesia não é mero sentimento, no estado puro, mas elaborado.

Ao rever a obra em 1947, Tristão anota: “Como são frágeis os vaticínios! Nunca mais ouvi falar desse poeta! Terá falecido? Terá silenciado? Terá sido tragado pelo cotidiano? Como tudo é melancólico e irônico!.

Paulo Setúbal continuou a escrever e enveredou-se por romances históricos. Integrou a Academia Paulista de Letras. Mas é verdade que poderia ser lembrado por sua poesia e por sua obra intelectual.

A vida é breve e mais curta ainda a memória dos pósteros, que só se preocupam com aquilo que mais lhes interessa de imediato e não têm tempo para o cultivo dos mortos ou para passear pela memória.


JOSÉ RENATO NALINI é reitor da Uniregistral, docente universitário, palestrante e autor de “Ética Geral e Profissional”, 13ª ed. – RT-Thomson

JOSÉ RENATO NALINI

Do site jj.com.br

sexta-feira, 2 de março de 2018

Paulo Setúbal como patrono

Americana SP - Rua Paulo Setúbal, Vila Santa Inês.
Atibaia SP - Rua Paulo Setúbal, bairro Jardim Cerejeiras.
Campinas SP - Rua Paulo Setúbal, Botafogo.
Cerquilho SP - Rua Paulo Setúbal, Recanto do Sol.
Chopinzinho PR - Ginásio Paulo Setúbal (o primeiro colégio do município).
Curitiba PR - Rua Paulo Setúbal, bairro Hauer / Boqueirão.
Fortaleza CE - Rua Paulo Setúbal, Bairro Messejana.
Ijuí RS, Rua Paulo Setúbal, Bairro Luiz Fogliato
Jundiaí SP - Rua Paulo Setúbal.
Lajes SC - Biblioteca Pública Municipal Paulo Setúbal
Nova Friburgo RJ - Paulo Setúbal é patrono da cadeira 34 da Academia Friburguense de Letras.
Paulínia SP - Rua Paulo Setúbal, Bairro João Aranha.
Piracicaba SP - Rua Paulo Setúbal, Vila Independência.
Ponta Grossa PR - Rua Paulo Setúbal, bairro Uvaranas.
Porto Alegre RS - Rua Paulo Setúbal, Passo d'Areia.
Praia Grande SP - Rua Paulo Setúbal, Esmeralda.
Ribeirão Preto SP - Paulo Setúbal é patrono da cadeira 16 da Academia Ribeirão-Pretana de Letras.
Rio de Janeiro RJ - Praça Paulo Setúbal, Vila da Penha, Zona Norte.
Rolândia PR - Rua Paulo Setúbal.
São José do Rio Preto SP - Rua Paulo Setúbal, Vila Santa Cruz.
São José dos Campos SP - Rua Paulo Setúbal, Jardim São Dimas.
São José dos Campos SP - Vila Paulo Setúbal.
São José dos Campos SP - Paulo Setúbal é patrono da Cadeira 02 da Academia Joseense de Letras.
São Paulo SP - Biblioteca Paulo Setúbal, na Vila Formosa.
São Paulo SP - Rua Paulo Setúbal, Bairro Santana.
São Paulo SP - Paulo Setúbal é patrono da Cadeira 24 da Academia Cristã de Letras.
São Paulo SP - Edifício Paulo Setúbal, Rua Martiniano de Carvalho, bairro Bela Vista.
Sorocaba SP - Rua Paulo Setúbal, Vila Hortência.
Sorocaba SP - Paulo Setúbal é patrono da Cadeira 09 da Academia Sorocabana de Letras.
Tatuí SP - Praça Paulo Setúbal, com busto do escritor.
Tatuí SP - Museu Histórico Paulo Setúbal.
Tatuí SP - Semana de Paulo Setúbal.
Tatuí SP - Prêmio Literário Paulo Setúbal.
Ubatuba SP - Rua Paulo Setúbal, Remanso do Mar.
Valinhos SP - Rua Paulo Setúbal.
Vitória da Conquista BA - Escola Municipal Paulo Setúbal

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A vida cultural Atibaiana

Jornal da Cidade - Atibara SP Acesso 17/01/2017 10:19 horas

A propósito da inauguração do Centro Cultural “André Carneiro”, instalado pela prefeitura na praça da Matriz, prevista para 27/01/2018, apresentamos uma retrospectiva, rápida e superficial, das manifestações culturais promovidas através dos tempos. 

As atividades ocorreram nas escolas públicas e privadas, nas igrejas, nas associações civis e nos estúdios particulares.

Poesia, prosa e teatro. Atibaia recebeu a visita dos consagrados escritores Francisco Silveira Bueno, Amadeu Amaral, Paulo Setúbal, Mário de Andrade, além do artista plástico Benedito Calixto. Marcaram a presença deixando escritos, pinturas e ditos alusivos à beleza, religiosidade e cultura popular.

A imprensa anotou a atuação de Aprígio de Toledo, que incentivos debates literários no Gabinete de Leitura. Preparou atores e montou peças no Teatro do Largo do Mercado. Orador de verve, culto e eloquente, representou diversas associações do município.

Porém, até hoje, não mereceu dos órgãos públicos se lhe recolhesse e publicasse os textos esparsos à disposição nas colunas dos jornais e nos arquivos históricos.

Em meados do século passado a Associação Amigos de Atibaia montou uma biblioteca para doação ao município. Os edis vetaram. Dulce Carneiro, articulista do jornal de A Gazeta, de grande circulação na capital paulista, publicou matéria alusiva. Concluiu que se Atibaia é o “paraíso quase possível na terra” (Amadeu Amaral), o quase é por conta e risco dos vereadores.

Manifestações teatrais. Surgiu o grupo teatral Atibaia Viva, coordenado pelo ator e diretor Osvaldo Barreto Filho; O Corpo Municipal de Teatro; Grupo de Teatro Aletheia; Escola de Atores Residência Antaud, com direção geral de Wellington Duran; Cia. Maschera, bonecos de mamulengo, do Leonardo Garcia e Giorgia Goldani; Grupo Arcênicos Atibaia, dirigido por Durval Mantovaninni; ATA –Associação Teatral de Atibaia e Observatório Cultural Mazu, da atriz e diretora Sílvia Masulo, . 
Cinemas. Todas as pessoas, - não importava a condição social - corriam aos encantamentos mágicos das sessões de cinema. No começo as exibições aconteciam em praça pública através de empresas itinerantes. Depois, a partir de 1903, os empreendedores da província construíram e instalaram salas confortáveis e apropriadas, mediante nomes diversos: Cine Pavilhão, Recreio Cinema , Nordisk Cinema, Cine Central, Cinema Atibaiense, Cine Theatro República, Trianon Cinema e Cine Paratodos, Cine Itá, Cina Paraiso, Cine Atibaia. As casas eras inauguradas às pressas. Não demorava muito fecharem as portas. Muitas reabriam depois de ampla reforma do prédio. Os equipamentos modernizavam-se e o público exigia melhorias e confortos, nem sempre viáveis economicamente.

Contou-me o Valdir Gaborim da existência de uma cinema no bairro do Tanque, instalado próximo à estação do trem da braantina. Era o Cine Carolina, ao que se sabe de propriedade de Carlos Del Nero.

A origem do nome “Cine Theatro República” é intrigante. Pertenceu ao major Juvenal Alvim. Desde logo, se imagina ocorresse em homenagem e profissão de fé no regime republicano. Muitos, entretanto, atribuem a homenagem à distribuidora de películas “Republic Pictures”, devido a águia americana de argamassa, pousada no frontispício do prédio. Entretanto, o cinema foi inaugurado em 1926 e a distribuidora foi constituída em 1935. 

Nos primeiros tempos os filmes eram mudos e projetados da sacada do Clube Recreativo Atibaiano contra as paredes da praça Claudino Alves. Era o “Cinema Paradiso” atibaiense, imortalizado pelo cineasta italiano Giuseppe Tornator, porém, sem qualquer censura religiosa. Nos raros filmes impróprios para menores de 18 anos o Juizado facilitava o ingresso, desde que o adolescente portasse constituição física espigada . 

Nas salas os filmes (mudos) eram projetados por trás das telas, que, por isso, eram permanentemente molhadas para manter a transparência. Nos longos intervalos as famílias abriam as sacolas e comiam lanches com ares de piquenique. Os vendedores de pipoca, amendoim, pirulito, balas e doces circulavam pela plateia oferecendo guloseimas expostas numa cesta grande, atada numa tira apoiada no pescoço. Havia música ambiente ao vivo, executada por instrumentistas emprestados das bandas de música. No saguão de espera as peças musicais eram ligeiras. Na sala de espetáculo quase sempre se apresentavam obras clássicas. 

Logo chegou o cinema falado. Os aparelhos de som, quase sempre de má qualidade, esganiçavam a voz dos artistas. Entretanto, conseguia-se distinguir perfeitamente a voz aveludada das famosas divas (musas) do cinema. O ardido sotaque texano do Gordo (ator norte-americano Oliver Hardy) contrastava com o refino vocal do Magro (ator inglês Stan Laurel). Ria-se muito com as gagues.

Os filmes em cartaz eram comentados nos alpendres das residências para melhor entendimento da trama. Os vizinhos se achegavam. Os diálogos cinematográficos eram em língua estrangeira e poucos espectadores acompanhavam e entendiam as legendas em português. As dublagens não existiam. Todavia, as colônias de origem europeias, principalmente a italiana, esbaldavam-se com as produções patrícias.

Ninguém se conformava com os personagens em situação de miséria, desempregado, que ostentavam uma casa bem mobiliada, dotada de eletrodomésticos, TVs e automóvel na garagem. Nem o mais rico atibaiense jamais sonhara com tal luxo! O fato denunciava o desnível de renda e riqueza entre os países desenvolvidos e pobres.

As piadas grassavam soltas nas rodas de amigos . Nos filmes de caubói dizia-se que os matutos portavam revólver no cinema caso os bandidos apontassem na direção da plateia. Legítima defesa putativa, explicam os juristas.

A política rondava os cinemas. Os grupos antagônicos mantinham casas exibidoras próprias. O Cine Trianon, dos irmãos Titarelli, era frequentado pelos filiados ao Partido Democrático, depois Partido Constitucionalista, em oposição à política do Major Alvim. Estes integravam o Partido Liberal, depois Partido Republicano Paulista.

A tecnologia evoluiu. A vida cultural se deteriorou. Espera-se que a o Centro de Cultura “André Carneiro” e o Cine Itá Cultural, espaços públicos, possam retomar os espetáculos de boa qualidade perdidos há muito tempo nas profundezas do desinteresse governamental,











Gilberto Santanna
gilbertosant@terra.com.br
Gilberto Sant´Anna é advogado e ex-prefeito de Atibaia.
Contato: gilbertosant@terra.com.br