sábado, 31 de outubro de 2020

ARTIGO | Dia Nacional do Livro e o despertar do coração

29 de outubro de 2020


Por Anne Valerry* 

O despertar de um coração é algo emocionante. Ele bate fora do normal, arde, tremula as pernas e entorpece os sentidos. Não sei o que acendeu fagulhas dentro do meu e fez me apaixonar pelo universo dos livros. Eu só me lembro que a história ficou martelando em mim por dias.

Era a Marquesa de Santos, de Paulo Setúbal, poeta da minha querida Tatuí. Foi o primeiro livro que eu li entrando na adolescência. Domitila de Castro Canto e Melo e o nosso Imperador D. Pedro I se encontraram a poucas semanas do grito do Ipiranga e foram amantes por sete anos.

Confesso que eu me vi impactada em plena juventude e que ele me deixou fora do ar e em altos devaneios. Peguei carona nas nuvens, como se os meus sonhos fossem soprados com gentileza pelos bons ventos de uma história romântica e chocante.

Esse livro teve o poder mágico de me transformar e descortinar o mundo entre um homem e uma mulher. Depois disso, me senti estimulada a ler outros livros e caí de amores pelo o que eles me trouxeram e me contaram.

Foi, então, que decidi explorar o universo da leitura e desbravei as incógnitas internas com descobertas valiosas, e transformei-o em uma fonte inesgotável de conhecimento e emoções. Com um livro, a solidão se despede e apresenta vidas fascinantes, sem dias entediantes.

Por isso, eu leio, leio, leio… e vivo em constante mutação e muito bem acompanhada pelo que há de mais rico em nossa cultura: os livros. Mais que isso, construo as minhas próprias histórias, com as obras que escrevo como a de Victoire e Maurice, em a Dama das Lavandas, mais que um romance de época transmite lições importantes sobre empoderamento feminino, preconceito, machismo, luta de classes e ainda atenta as mulheres em relação às escolhas para o futuro.

E tenho orgulho, neste Dia Nacional do Livro, em despertar outros corações e emocionar mais e mais pessoas a amarem os livros e buscarem inspirações página por página.

*Anne Valerry é formada em Letras, é professora de português e espanhol e foi por muito tempo bailarina e coreógrafa. Seu primeiro romance publicado foi Uma linda história de amor. Recentemente lançou a obra A Dama das Lavandas. Ela gosta de retratar paixões tórridas, mas também bem-humoradas e repletas de ensinamentos.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Thales: “humano, demasiado humano”

por: Cecílio Elias Netto, em A Província

fonte: "A Tribuna Piracicabana", caderno especial na edição de 15/setembro/2020

15/09/2020 às 18:54

[artigo publicado, originalmente, no caderno especial produzido pelo jornal “A Tribuna Piracicabana”, em comemoração aos 130 anos de nascimento do escritor piracicabano Thales Castanho de Andrade – considerado o pioneiro da literatura infanto-juvenil brasileira]

Thales Castanho de Andrade. (imagem: arquivo IHGP)

Não me ocorrera antes, mas, agora, parece-me apreender – talvez, mais lucidamente – a agridoçura do livro “Saudade”, de Thales de Andrade. Pois é saudade o que estou sentindo. Uma estranha e esquisita saudade. Dele, saudade dele. De Thales Castanho de Andrade.

Na verdade, não consigo defini-la nem a mim mesmo. Ela, a saudade, veio devagar, de mansinho. Percebi-a dois dias após o Evaldo Vicente convidar-me a participar desta homenagem a Thales. Pelos seus 130 anos de existência. Pois, embora em outra dimensão, Thales de Andrade, o professor Thales, o escritor Thales – o Thales que me impulsionou à vida literária – esse Thales existe. Cada vez mais, como se prisioneiro ou refém da História.

Não ouso dizer esteja sendo o passado a renascer das cinzas. É algo mais concreto, mais real. Nestas horas, sinto ter entendido – e espero assim o seja – Thales de Andrade não ser, para mim, tão somente essa notável personalidade histórica, mas uma força muito além disso: ele é parte fundante de minha vida profissional. Como não o seria, se, nessa já longa estrada, Thales de Andrade esteve entre os que mais segurança me deram, quase que lançando-me abruptamente nessa misteriosa, fascinante, imprevisível aventura?

Foi aos meus 17 anos. (Ah! “Volver a los 17” – como já o cantara a incomparável Mercedes Sosa.) Numa certa tarde, João Chiarini – sempre ele, inesquecível João – foi à nossa casa à minha procura. Acompanhava-se de um intelectual de Tatuí, de nome Paulo, coordenador, então, da Semana Paulo Setúbal naquela cidade. Eles convidavam o jovem estudante –então, recém-saído do curso colegial – para ser um dos palestrantes das solenidades daquele ano. E, em ar desafiador, disseram-me: “Você irá proferir a palestra na mesma noite da fala de Thales de Andrade”. Falar em público, ao lado de Thales? Quis fugir.

Naquele mesmo momento, recebemos a visita de meu ex-professor de literatura e de línguas, o então padre Eduardo Affonso. A casa de meus pais era como um quintal sem muros, portas abertas aos amigos, vizinhos e, até mesmo, a estranhos. Morávamos no coração de Piracicaba e era quase um hábito das pessoas “ir tomar um cafezinho na casa de Dona Amélia e Seo Tuffi”. Meu professor entusiasmou-se e bradou: “Ele (eu) irá, sim. E tenho o tema para ele desenvolver: “As reticências de Paulo Setúbal!” Reticências… Uma quase criança tentar decifrar o que Paulo Setúbal deixara oculto em alma e coração, resumido a misteriosas reticências?

Jamais saberei se foi coragem, audácia, atrevimento ou irresponsabilidade juvenil. O fato é que preparei a palestra e lá me vi levado a Tatuí. No mesmo carro que transportava o Mestre Thales de Andrade. Não falei palavra durante a breve viagem. Tive medo, como se, por fim, desperto para a minha imprudência. O fato é que uma força inexplicável me moveu ao fazer o discurso, o público incendiou-se, os aplausos prolongaram-se e me vi aturdido, apalermado. Era como se o vulcão represado dentro de mim tivesse explodido, esvaziando-se e esvaziando-me.

Foi, então, que aconteceu a nobreza, a grandeza, a realeza de espírito daquele já idoso senhor, do escritor consagrado, do pioneiro da literatura infantil brasileira, de nome Thales Castanho de Andrade. Pois, ao se anunciar o seu discurso, ele se levantou pachorrenta e serenamente como era de seu feitio, cumprimentou o público e apenas informou: “Depois do que ouvimos desse moço, eu nada mais tenho a falar.” Olhou-me não sei se com ternura se cumplicidade e sentou-se. O público ovacionou-o. Todos compreenderam que, naquele momento, era a alma paterna, humana, generosa, compassiva de Thales de Andrade abrindo-se para agasalhar, em proteção, um jovenzinho iniciante.

Era o Thales revelando-se como realmente sempre foi: “humano, demasiado humano”. Como não lhe render graças?

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

5 obras sobre as vítimas de dom Pedro I

Maria Leopoldina, Dom Pedro I e Domitila de Castro protagonizaram um dos mais conturbados triângulos amorosos da História

VICTÓRIA GEARINI
Publicado no site Aventuras na História, em 07/01/2020

Respectivamente: Maria Leopoldina, Dom Pedro I e Domitila de Castro - Creative Commons


Crédito: Leya

A imperatriz D. Leopoldina ficou conhecida por conta de seu triângulo amoroso com Domitila de Castro e D. Pedro I. No entanto, esta obra apresenta a imperatriz por outro ângulo. O escritor Paulo Rezzutti reforça a figura complexa e carismática de Maria Leopoldina, a partir de um caderno de imagens inéditas e documentos originais.


Crédito: Geração Editorial

Em sua obra, o historiador Paulo Rezzutti apresenta a biografia completa de Domitila de Castro (1797 -1867), mais conhecida como a Marquesa de Santos. Considerada uma das mulheres mais conhecidas e influentes da América Latina, a marquesa teve um caso secreto com Dom Pedro I, que, segundo o escritor Paulo Setúbal, escandalizou a sociedade da época com o seu amor pelo primeiro imperador.


Crédito: Wikimedia Commons

A obra de Marsilio Cassotti revela fatos ocultos de cartas de Leopoldina, por meio de um tom intimista e ágil. Com rigor histórico, este romance aborda educação sentimental e política, em um contexto imperial brasileiro.


Crédito: Rocco Digital 

A renomada historiadora Mary del Priore reinventa a forma de contar a história do conturbado triângulo amoroso. Por meio de um conteúdo inédito, a escritora revela cartas de Dom Pedro I à sua amante e à sua esposa, além de escritos de Leopoldina ao marido e à irmã. Em paralelo com a história do Brasil e da cidade do Rio de Janeiro, a obra expõe momento intrigantes e de erotismo da família imperial.


Crédito: Leya

Para contar a história secreta de Dom Pedro I e a Marquesa de Santos, Paulo Rezzutti reuniu cartas trocadas pelos amantes, entre 1823 a 1829. O escritor revela em sua obra fatos curiosos, como os apelidos intrigantes do casal. Rezzutti resgatou os escritos em arquivos, encontrados nos Estados Unidos, e revela, ainda, aspectos do cotidiano do Primeiro Reinado.