quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A vida cultural Atibaiana

Jornal da Cidade - Atibara SP Acesso 17/01/2017 10:19 horas

A propósito da inauguração do Centro Cultural “André Carneiro”, instalado pela prefeitura na praça da Matriz, prevista para 27/01/2018, apresentamos uma retrospectiva, rápida e superficial, das manifestações culturais promovidas através dos tempos. 

As atividades ocorreram nas escolas públicas e privadas, nas igrejas, nas associações civis e nos estúdios particulares.

Poesia, prosa e teatro. Atibaia recebeu a visita dos consagrados escritores Francisco Silveira Bueno, Amadeu Amaral, Paulo Setúbal, Mário de Andrade, além do artista plástico Benedito Calixto. Marcaram a presença deixando escritos, pinturas e ditos alusivos à beleza, religiosidade e cultura popular.

A imprensa anotou a atuação de Aprígio de Toledo, que incentivos debates literários no Gabinete de Leitura. Preparou atores e montou peças no Teatro do Largo do Mercado. Orador de verve, culto e eloquente, representou diversas associações do município.

Porém, até hoje, não mereceu dos órgãos públicos se lhe recolhesse e publicasse os textos esparsos à disposição nas colunas dos jornais e nos arquivos históricos.

Em meados do século passado a Associação Amigos de Atibaia montou uma biblioteca para doação ao município. Os edis vetaram. Dulce Carneiro, articulista do jornal de A Gazeta, de grande circulação na capital paulista, publicou matéria alusiva. Concluiu que se Atibaia é o “paraíso quase possível na terra” (Amadeu Amaral), o quase é por conta e risco dos vereadores.

Manifestações teatrais. Surgiu o grupo teatral Atibaia Viva, coordenado pelo ator e diretor Osvaldo Barreto Filho; O Corpo Municipal de Teatro; Grupo de Teatro Aletheia; Escola de Atores Residência Antaud, com direção geral de Wellington Duran; Cia. Maschera, bonecos de mamulengo, do Leonardo Garcia e Giorgia Goldani; Grupo Arcênicos Atibaia, dirigido por Durval Mantovaninni; ATA –Associação Teatral de Atibaia e Observatório Cultural Mazu, da atriz e diretora Sílvia Masulo, . 
Cinemas. Todas as pessoas, - não importava a condição social - corriam aos encantamentos mágicos das sessões de cinema. No começo as exibições aconteciam em praça pública através de empresas itinerantes. Depois, a partir de 1903, os empreendedores da província construíram e instalaram salas confortáveis e apropriadas, mediante nomes diversos: Cine Pavilhão, Recreio Cinema , Nordisk Cinema, Cine Central, Cinema Atibaiense, Cine Theatro República, Trianon Cinema e Cine Paratodos, Cine Itá, Cina Paraiso, Cine Atibaia. As casas eras inauguradas às pressas. Não demorava muito fecharem as portas. Muitas reabriam depois de ampla reforma do prédio. Os equipamentos modernizavam-se e o público exigia melhorias e confortos, nem sempre viáveis economicamente.

Contou-me o Valdir Gaborim da existência de uma cinema no bairro do Tanque, instalado próximo à estação do trem da braantina. Era o Cine Carolina, ao que se sabe de propriedade de Carlos Del Nero.

A origem do nome “Cine Theatro República” é intrigante. Pertenceu ao major Juvenal Alvim. Desde logo, se imagina ocorresse em homenagem e profissão de fé no regime republicano. Muitos, entretanto, atribuem a homenagem à distribuidora de películas “Republic Pictures”, devido a águia americana de argamassa, pousada no frontispício do prédio. Entretanto, o cinema foi inaugurado em 1926 e a distribuidora foi constituída em 1935. 

Nos primeiros tempos os filmes eram mudos e projetados da sacada do Clube Recreativo Atibaiano contra as paredes da praça Claudino Alves. Era o “Cinema Paradiso” atibaiense, imortalizado pelo cineasta italiano Giuseppe Tornator, porém, sem qualquer censura religiosa. Nos raros filmes impróprios para menores de 18 anos o Juizado facilitava o ingresso, desde que o adolescente portasse constituição física espigada . 

Nas salas os filmes (mudos) eram projetados por trás das telas, que, por isso, eram permanentemente molhadas para manter a transparência. Nos longos intervalos as famílias abriam as sacolas e comiam lanches com ares de piquenique. Os vendedores de pipoca, amendoim, pirulito, balas e doces circulavam pela plateia oferecendo guloseimas expostas numa cesta grande, atada numa tira apoiada no pescoço. Havia música ambiente ao vivo, executada por instrumentistas emprestados das bandas de música. No saguão de espera as peças musicais eram ligeiras. Na sala de espetáculo quase sempre se apresentavam obras clássicas. 

Logo chegou o cinema falado. Os aparelhos de som, quase sempre de má qualidade, esganiçavam a voz dos artistas. Entretanto, conseguia-se distinguir perfeitamente a voz aveludada das famosas divas (musas) do cinema. O ardido sotaque texano do Gordo (ator norte-americano Oliver Hardy) contrastava com o refino vocal do Magro (ator inglês Stan Laurel). Ria-se muito com as gagues.

Os filmes em cartaz eram comentados nos alpendres das residências para melhor entendimento da trama. Os vizinhos se achegavam. Os diálogos cinematográficos eram em língua estrangeira e poucos espectadores acompanhavam e entendiam as legendas em português. As dublagens não existiam. Todavia, as colônias de origem europeias, principalmente a italiana, esbaldavam-se com as produções patrícias.

Ninguém se conformava com os personagens em situação de miséria, desempregado, que ostentavam uma casa bem mobiliada, dotada de eletrodomésticos, TVs e automóvel na garagem. Nem o mais rico atibaiense jamais sonhara com tal luxo! O fato denunciava o desnível de renda e riqueza entre os países desenvolvidos e pobres.

As piadas grassavam soltas nas rodas de amigos . Nos filmes de caubói dizia-se que os matutos portavam revólver no cinema caso os bandidos apontassem na direção da plateia. Legítima defesa putativa, explicam os juristas.

A política rondava os cinemas. Os grupos antagônicos mantinham casas exibidoras próprias. O Cine Trianon, dos irmãos Titarelli, era frequentado pelos filiados ao Partido Democrático, depois Partido Constitucionalista, em oposição à política do Major Alvim. Estes integravam o Partido Liberal, depois Partido Republicano Paulista.

A tecnologia evoluiu. A vida cultural se deteriorou. Espera-se que a o Centro de Cultura “André Carneiro” e o Cine Itá Cultural, espaços públicos, possam retomar os espetáculos de boa qualidade perdidos há muito tempo nas profundezas do desinteresse governamental,











Gilberto Santanna
gilbertosant@terra.com.br
Gilberto Sant´Anna é advogado e ex-prefeito de Atibaia.
Contato: gilbertosant@terra.com.br

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